Faltando pouco mais de um mês para seu lançamento, o PlayStation Vita
já é um dos aparelhos mais desejados deste início de ano. Agendado para
chegar às lojas no próximo dia 22 de fevereiro, o novo portátil da Sony empolga os gamers do mundo inteiro por conta de seu hardware que promete deixar todos os rivais comendo poeira.
Contudo, um “video game de bolso de alto desempenho” é o suficiente
para fazer com que o aparelho seja um sucesso de vendas? É impossível
negar que seu potencial é realmente impressionante — como bem pude ver
quando o testei —, mas isso é apenas um dos pesos na balança que
determinará se o Vita será um pequeno notável ou apenas mais um portátil
com síndrome de grandeza.
As pedras no meio do caminhoGrandes obstáculos para um pequeno consoleNão
quero ser pessimista, mas é inegável que, por trás das propagandas e de
promessas de revolução da Sony, o Vita terá um caminho bastante
delicado a seguir. Os jogadores que não se deixaram cegar pelas
promessas feitas já perceberam isso, principalmente após a decepção que
foi o lançamento do Nintendo 3DS. E sejamos francos: os números iniciais do aparelho no Japão não são muito animadores.
Sendo assim, vou bancar o “Arauto do Mau Agouro” e apontar alguns
motivos pelos quais o Vita vai tropeçar nas mesmas pedras de seu rival.
Atenção: é claro que tudo isso não passa de
especulação, já que o aparelho só chega ao Ocidente em fevereiro e não
sabemos como o mercado vai reagir quanto a isso — mas nada nos impede de
tentar imaginar.
O preço que dói no bolso
Embora os US$ 250 do modelo básico do PlayStation Vita e os US$ 300 do
3G estejam bem abaixo do que muita gente esperava, esses preços
continuam salgados para um portátil. Levando em consideração que há
consoles de mesa sendo vendidos abaixo disso nos Estados Unidos, a
fabricante certamente vai enfrentar resistência do jogador
norte-americano quanto a isso.
Basta lembrar que o 3DS começou a ser vendido a esse preço e a Nintendo
se viu obrigada a reduzir consideravelmente o valor para aumentar o
número de vendas. Ao insistir com os US$ 250, as chances de a Sony se
ver diante do mesmo problema são grandes. No Japão, lojistas já
começaram a diminuir o custo para atrair novos clientes.
Para o Brasil, isso tende a ser ainda pior, já que dificilmente o custo
de R$ 460 e R$ 500 pelos modelos Wi-Fi e 3G, respectivamente, será
repassado ao consumidor (compraria sem pensar duas vezes se achasse um
Vita por esse preço). Como já é tradição no país, podemos esperar a
edição mais simples beirando os quatro dígitos (ou ultrapassando-os), o
que nem mesmo suaves prestações em seu cartão de crédito vão conseguir
amenizar.
A infinidade de acessórios
Pegando
carona no problema do preço, o sucesso do Vita se enrosca em uma
estratégia bastante questionável da Sony: obrigar o jogador a adquirir
vários acessórios para conseguir aproveitar o mínimo que o portátil tem a
oferecer.
Como o aparelho não possui memória interna, é preciso que um pequeno
cartão esteja presente para que os dados sejam armazenados. Contudo, a
empresa optou por trazer um formato proprietário, ou seja, não adianta
pegar o Memory Stick de seu PSP ou comprar um modelo genérico e mais
barato, pois somente os modelos oferecidos pela fabricante serão aceitos
no console.
Para ter uma ideia, o dispositivo de 4 GB será vendido lá fora por US$
29, enquanto o de 32 GB sai por US$ 119 (cerca de R$ 53 e R$ 219,
respectivamente), o que acaba sendo um gasto a mais na hora de adquirir
um portátil. Levando em consideração que você vai usá-lo tanto para
salvar seus games quanto para armazenar suas compras na PSN, saiba que
será preciso um espaço consideravelmente grande.
O pior é que você não tem nem a opção de deixar para depois, pois
muitos jogos exigem o cartão para funcionar, como o aguardado Uncharted: Golden Abyss. Agora coloque tudo na ponta do lápis e veja o rombo no orçamento.
O desafio dos primeiros jogos
Uma
das principais promessas da Sony é trazer, logo de início, uma lista de
grandes jogos para fazer com que o PlayStation Vita caia no gosto do
público. De fato, a empresa divulgou uma boa dezena de games, mas quais
são fortes o suficiente para fazer alguém comprar o console?
Não é preciso nem se esforçar muito para perceber isso. Com exceção do
novo Uncharted, qual outro jogo vai motivá-lo a adquirir o sucessor do
PSP? LittleBigPlanet e ModNation Racers
são franquias fortes, mas não o suficiente para fazer alguém correr até
a loja mais próxima. Já os demais títulos são voltados a diferentes
nichos, mas dificilmente irão colaborar com as vendas do Vita.
É claro que há outros jogos anunciados, mas todos serão lançados
futuramente e não são de grande serventia nos primeiros passos do
portátil. Lembra-se de Kid Icarus: Uprising? O retorno de Pit foi apresentado juntamente com o 3DS, mas até agora ele não chegou às prateleiras.
Retrocompatibilidade
Olhe bem para sua biblioteca de jogos para PSP. Agora diga adeus.
Apesar de ter um hardware fantástico, o PS Vita não terá suporte aos
games de seu antecessor. Como ele usa um novo formato de cartão, não há
uma entrada para seus antigos UMDs, o que significa que eles ficarão
acumulando poeira em sua estante.
A Sony até prometeu uma forma de fazer com que títulos do PlayStation
Portable rodem no novo portátil, mas isso será feito por meio da PSN, ou
seja, voltamos ao problema do dispositivo de armazenamento. Isso sem
falar da possibilidade de que será preciso pagar para ter acesso a esse
conteúdo.
Os temíveis smartphones
Apesar de não ser um problema exclusivo do Vita, a Sony terá de
enfrentar um concorrente muito mais duro que o Nintendo 3DS para
sobreviver. Os smartphones já incomodam a indústria portátil há algum
tempo e não vai ser agora que a situação vai mudar de uma hora para a
outra.
Isso porque os celulares disputam a atenção do público que procura um
dispositivo no qual possa jogar e que consegue, em muitos aspectos, ser
mais atraente que os próprios consoles. Além de serem vendidos a preços
semelhantes, eles possuem quase as mesmas funções — acesso à internet e
conexão com redes sociais, por exemplo —, o que faz deles verdadeiros
“tudo em um”. Por que andar com telefone e um video game quando você
pode ter tudo em um smartphone?
Isso
sem falar que o preço de jogos mobile é consideravelmente menor do que
de um portátil. Enquanto o Vita venderá seus títulos entre US$ 30 e US$
50 (R$ 55 e R$ 92 no câmbio atual), AppStore e Android Market
oferecem-nos a partir de US$ 1 (R$ 1,85). Para piorar a situação, alguns
games estarão presentes em ambas as plataformas, como Plants vs. Zombies.
É claro que isso não vai incomodar o jogador hardcore que procura uma
nova experiência. Contudo, é preciso lembrar que o mercado também
precisa desse público casual e o sucesso do PlayStation Vita só
acontecerá caso haja uma aceitação por parte desse tipo de consumidor.
Como reverter a situação?
Ainda é cedo para dizer se essas razões vão definir o fracasso do
PlayStation Vita ou se o público vai ignorar essas questões e fazer com
que as vendas explodam em 2012. De uma forma ou de outra, esses são
apenas alguns aspectos questionáveis do novo console, e a Sony terá que
ficar muito atenta a tudo isso caso não queira correr atrás do prejuízo
no segundo semestre.